Um dos novos conselheiros da ABiogás é o Marcelo Cupolo, Gerente de Projetos de Gás da Catterpilar Energy Solutions.
Em sua entrevista, Marcelo fala sobre a sua visão do setor, o que espera para o futuro e desafios do mercado.
Confira!
1- Como você vê o setor de biogás nos próximos anos?
Vejo o setor em franco crescimento, pois os custos da energia proveniente de hidroelétricas só cresce, seja pelas secas, seja pela competição do uso da água, pelas dificuldades de licenciamento ambiental e também porque não faz mais sentido, seguir investindo em projetos faraônicos que demoram anos para serem construídos e envolvem grandes riscos técnicos e financeiros. O biogás é uma SOLUÇÃO DE ALTO IMPACTO, que existe há muitos anos. Hoje muita gente busca o LUCRO COM PROPÓSITO. O biogás é definitivamente benéfico para o usuário e para a sociedade em geral. Não adianta, por exemplo, incentivar energias mais baratas e depois ter que investir em tratamento de resíduos urbanos, tratamento de água potável, esgotos domésticos e redução da poluição do ar. A formulação de incentivos passa por uma visão sistêmica de políticas energéticas atreladas às políticas ambientais. Por exemplo, incentivar que todos nos novos aterros a serem construídos no país, devem produzir energia elétrica a ser vendida por um preço justo em contrato de longo prazo… Ou que todas as novas ETEs com reatores UASB deverão contar com produção própria de energia. O novo Marco do Saneamento acaba de sair e nós temos que “surfar nessa onda”.
2- Qual ação você destacaria como prioritária para o desenvolvimento do setor?
Se comparado com a Alemanha, um país com cerca de 80 milhões de habitantes e com mais de 10 mil plantas de biogás, nós estamos engatinhando. Por lá, o incentivo foi o de garantir um alto preço de venda de energia aos produtores de energia proveniente do biogás. Por aqui, temos que produzir a mesma energia, porém vão nos pagar entre 20% a 50% do que é pago na Alemanha. Para piorar, existe uma alta carga tributária sobre as peças importadas dos grupos motogeradores, na faixa de 60% a 80%. Enfim, ajudaria muito se o governo abrisse mão desses impostos por alguns anos, pois o custo de operação competitivo é a chave na viabilidade dos projetos. Como são projetos menores e descentralizados, ainda há certa dificuldade por parte dos especialistas do setor, promoverem um só mecanismo de incentivo, mas certamente os leilões que colocam todas as fontes de energia na mesma cesta e a energia mais barata ganha, não nos favorece. Nós temos atributos como por exemplo garantia de energia firme que nenhuma outra renovável tem. Talvez promover leilões de energia regionais, envolvendo as distribuidoras locais possa fazer muito sentido, melhorando a qualidade e disponibilidade de energia elétrica, principalmente em localidades distantes dos grandes centros, onde justamente estão os projetos de biogás com resíduos da agro indústria.
3- Como a ABiogás pode atuar para alavancar o mercado?
É muito gratificante, fazer parte da ABiogás desde a fundação e perceber que realmente a Associação tem feito a diferença, principalmente criando visibilidade para o biogás. O Brasil é um país de dimensões continentais e temos certa dificuldade em conversar com as diversas regiões do país. Para alavancar o mercado, devemos continuar dando visibilidade aos projetos de sucesso e não deixar de apresentar os riscos técnicos e financeiros envolvidos. Como por aqui ainda não temos um mercado maduro, ainda vejo algumas soluções “tupiniquins” surgindo, mas que não são sustentáveis ao longo do tempo. Cabe a nós alertarmos e buscar um meio termo entre tecnologias de ponta e consagradas em outros países versus experiências sendo feitas por novos entrantes no setor. Mais vale um crescimento consistente do que o “voo da galinha”. Os projetos tem de ser analisados de acordo com os critérios de CAPEX e OPEX de longo prazo, não somente de menor investimento. A ABiogás tem a função de reunir empresas que tem um grande objetivo em comum, o de trazer a sustentabilidade aos projetos, nos três pilares econômico, ambiental e social e acredito que dando visibilidade aos projetos de sucesso e mostrando as dificuldades existentes de forma transparente, estamos atingindo nossas metas.