O setor sucroenergético responde por mais da metade do potencial de geração de biogás, com capacidade de produção de 57,6 milhões Nm³/dia do produto
Os resíduos provenientes das usinas de açúcar e etanol (vinhaça, palha da cana e torta de filtro) são considerados, hoje, os mais promissores para a geração de biogás e biometano no Brasil. De acordo com a gerente executiva da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), Tamar Roitman, embora atualmente a maior produção ainda venha do saneamento, o setor sucroenergético é o que tem maior potencial de crescimento.
Atualmente, o setor sucroenergético tem capacidade de produzir 57,6 milhões Nm³/dia de biogás. “O bagaço da cana já é usado para gerar energia elétrica em caldeiras. Mas os demais resíduos podem ter um melhor aproveitamento”, destaca Tamar.
O engenheiro de projetos e P&D da Geo Energética, Alysson Oliveira, explica que a vinhaça e a torta de filtro são usadas normalmente como fertilizantes nas usinas, mas, se forem direcionados para geração de biogás, o aproveitamento será melhor. “Além de produzirem energia limpa, ainda se tornam fertilizantes de melhor qualidade ao passar pelo processo de biodigestão”, afirma.
Por isso, ambos acreditam que o interesse das usinas pela geração de biogás tende a crescer e, não por menos, muitos desafios para o setor estão sendo superados. “O biogás já alcançou uma certa maturidade. Hoje, tanto os produtores quanto os investidores, que financiam os projetos, já enxergam os benefícios dessa fonte de geração. Além disso, temos segurança regulatória, tecnologia e projetos robustos que demonstram o potencial do mercado”, ressalta Tamar.
Desenvolvimento tecnológico impulsiona o biogás
No ano passado, a Abiogás mapeou 69 novas usinas de biogás. Cerca da metade é de pequeno e médio porte. As estruturas estão localizadas junto a propriedades rurais, mas existem também grandes investimentos, como o da Raízen Geo Biogás, uma das maiores plantas do mundo, com capacidade instalada de 21 MW.
A planta, construída na usina Bonfim, no município de Guariba (SP), é uma parceria entre a Raízen e a Geo Energética, que além de investir em engenharia, também opera um centro de pesquisas (em Londrina, PR), onde desenvolve tecnologias para o setor. “Temos um laboratório voltado ao desenvolvimento de soluções na área de biodigestão, além de fazermos pesquisas e avaliação de matérias primas para apoio às usinas. Realizamos estudos desde a escala laboratorial, escala piloto, até o desenvolvimentos de alguns equipamentos e processos”, conta Alysson.
A Geo Energética atua no desenvolvimento de negócios, projetos de engenharia, opera plantas e é co-investidora em algumas. Hoje, segundo Alysson, há três projetos em fase de implantação e operação, além de uma planta própria da empresa, já operada há dez anos e com capacidade para 10 MW.
O especialista destaca também o projeto Cocal Energia, em parceria com a Geo Energética, com potencial de 10 MW. “São 5 MW de energia elétrica, mais uma produção de 24 mil m³ por dia de biometano, que será injetado em uma rede dedicada da Distribuidora de Gás, Gas Brasiliano, que está sendo construída exclusivamente para isso”, diz.
A iniciativa vai beneficiar as cidades de Presidente Prudente, Narandiba e Pirapozinho, no interior paulista. “Será um dos primeiros gasodutos exclusivos de biometano, gás natural verde, do mundo”, afirma Alysson.
Pelo aspecto da sustentabilidade e pegada negativa de carbono, o mercado de biogás está em expansão. De acordo com a Abiogás, já existem 670 plantas em operação no Brasil (dado de maio de 2021), sendo que 80% delas geram energia elétrica. Menos de 10% do potencial é destinado ao biometano e o restante é destinado à energia térmica.
Fonte: Além da Energia