Produção ocorre através do biogás, que é obtido por meio da vinhaça e da torta de filtro, parte sólida que sai da filtração do caldo da cana. Cultura é a principal fonte de energia renovável do país.
O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e a cultura é a principal fonte de energia renovável do país.
Além de produzir o etanol, as usinas usam os resíduos da moagem da cana para produzir energia elétrica. Primeiro foi a vez do bagaço, que passou a ser queimado para alimentar as caldeiras. Depois, a vez do biogás, obtido a partir da palha, vinhaça e torta de filtro da cana.
Essa tecnologia em si não é nova, mas, no interior de São Paulo, em Guariba, uma usina da Raízen está produzindo, pela primeira vez no Brasil, energia elétrica com o biogás para ser usada escala comercial.
“Essa experiência de grande escala para a gente é um marco. É algo que é para comemorar”, comenta Marcelo Zaiat, engenheiro químico da Universidade de São Paulo (USP).
Na usina, os resíduos utilizados são a vinhaça e a torta de filtro que, antes, eram usadas apenas como fertilizantes.
A vinhaça é a parte líquida que sobra da destilação do caldo da cana. Ela sai da usina por dutos e retorna para a lavoura por ser rica em potássio.
Já a torta de filtro, parte sólida que sai da filtração do caldo da cana, é rica em fósforo e também é reaproveitada no campo depois de ser misturada com as cinzas.
Produção do biogás
Antes de ir para as lavouras, a vinhaça e a torta de filtro da cana-de-açúcar vão para os biodigestores da usina de Guariba. Nesses equipamentos, parte da matéria orgânica das duas é transformada em biogás pela ação das bactérias.
O gás metano produzido neste processo vai para a superfície dos biodigestores e é levado por dutos até os motogeradores, onde ele será queimado para gerar energia elétrica. A queima emite gás carbônico, mas evita que o metano, muito mais prejudicial ao meio ambiente, vá para a atmosfera.
Os resíduos restantes continuam sendo utilizados como fertilizantes, conta João Paulo Miranda, engenheiro de automação.
Ele explica que a vantagem de fazer a codigestão utilizando a matéria orgânica dos dois insumos é produzir energia por mais tempo.
“A torta de filtro é um produto estratégico para nós porque a gente consegue armazenar, é onde eu consigo produzir o ano inteiro energia elétrica. A vinhaça é um volume maior, porém eu não armazeno, eu utilizo ela durante o período de safra. Então, essa planta deixa de ser sazonal e trabalha os 365 dias por ano”, afirma.
Mais sustentável
Enquanto as usinas reaproveitam cada vez mais os subprodutos da cana, na universidade, os pesquisadores estão buscando tornar essas fontes de energia cada vez mais sustentáveis.
Uma dessas iniciativas está no laboratório da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Araras. No local, um equipamento está medindo a quantidade de metano que é emitida durante a biodigestão da vinhaça. A ideia é buscar uma energia que emita menos poluentes na atmosfera.
“O nosso foco é retirar esse metano na vinhaça justamente com o objetivo de separar o carbono, porque metano é ch4: tem quatro moléculas de hidrogênio e o hidrogênio é a bola da vez do mundo em termos de mobilidade”, diz Otávio Valsechi, engenheiro agrônomo da UFSCar.
“O mundo vai se mover por eletricidade e uma das grandes fontes de oferta de eletricidade seria o hidrogênio utilizado em células a combustível”, acrescenta.
Valsechi trabalha com cana-de-açúcar há 40 anos e vê um grande potencial no uso da cultura para gerar cada vez mais energia limpa, melhorar a eficiência das lavouras e minimizar os danos ao meio ambiente.
“Até digo que são as galinhas dos ovos de ouro [a cana-de-açúcar]. Nós temos hidrogênio no etanol, hidrogênio no metano da vinhaça, hidrogênio do gás de síntese da gaseificação do bagaço. É um potencial fantástico na geração de eletricidade”, diz ele.