A GasBrasiliano, distribuidora de gás da região noroeste de São Paulo, fechou parceria com a ZEG Biogás, empresa do grupo Capitale dedicada a energia renovável, para viabilizar a conexão ao gasoduto de agroindústrias do noroeste do estado com potencial de produção de biometano. As companhias mapearam 140 usinas de açúcar e etanol que poderão receber dutos de conexão à malha da distribuidora, com capacidade para fornecer mais de 1 milhão de metros cúbicos por dia (m³/dia) de biometano à rede.
A GasBrasiliano espera não apenas aumentar a injeção do energético renovável à malha de dutos da empresa, como também passar a ser a distribuidora de gás para usinas ainda não conectadas ao sistema de distribuição. “Estamos numa região com densidade demográfica mais baixa do que o restante de São Paulo, o que coloca um desafio de expansão da rede. Esse modelo traz oportunidade da expansão da infraestrutura”, diz o presidente da distribuidora, Alex Gasparetto.
O biometano resulta da purificação do biogás, energético obtido por meio da decomposição de resíduos orgânicos, e pode ser usado na substituição do gás natural e do gás liquefeito de petróleo (GLP). Atualmente a produção nacional do combustível está em cerca de 2 milhões de m³/d, mas segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o volume pode chegar à ordem de 17 milhões de m³/dia até 2030. O combustível ainda enfrenta desafios logísticos. “É necessário incentivar a expansão da rede de dutos para ligar o agronegócio brasileiro à infraestrutura de distribuição de gás. Se isso estiver solucionado, o Brasil pode ser maior produtor do biometano e gás renovável do mundo”, diz o sócio-fundador da Zeg, Daniel Rossi.
Por isso, o biometano tem potencial para crescer principalmente no interior do país, pouco atendido pela malha de gasodutos, hoje concentrada na costa. Uma das áreas com mais potencial para novos negócios está na substituição do diesel na frota de caminhões que atendem ao agronegócio. “O que falta para se conseguir movimentar o mercado são boas estruturações comerciais que viabilizem o retorno do investimento. As parcerias estratégicas são fundamentais para se criar um mercado novo e esse é um mercado que quase não existe no Brasil. O que queremos fazer é torná-lo mais conhecido e comercialmente escalável”, diz Rossi.
Recentemente, o mercado tem sido beneficiado não somente pelas discussões sobre a abertura do setor de gás, como também pelo marco regulatório do setor de saneamento, aprovado este ano, pois aterros sanitários têm potencial para a produção do biometano. A partir da Nova Lei do Gás, atualmente em discussão no Senado, as distribuidoras vão ter a possibilidade de fazer acordos de swap de gás e a possibilidade de troca do energético renovável entre diferentes empresas deve impulsionar ainda mais o mercado. Além disso, o crescimento da produção de biocombustíveis, a partir do programa do governo federal RenovaBio também deve ser um fator incentivador do biometano. As usinas de açúcar e etanol geram grande quantidade de vinhaça, composto rico em carga orgânica, que pode ser explorado para produção de biometano.
Segundo a presidente da holding de gás MDC, Manuela Kayath, o avanço das agendas de responsabilidade ambiental e social (conhecidas como ESG, na sigla em inglês), também tem feito a demanda pelo combustível renovável crescer na indústria. “As empresas que não são eletrointensivas podem pagar a mais por um energético, o que não faz tanta diferença na rentabilidade delas, e acabam usando as energias renováveis como uma ferramenta institucional, de marketing”, diz a executiva.