Em apresentação sobre o potencial e as oportunidades do biogás no Brasil, Alessandro Gardemann diz que a meta da associação é chegar a 30 milhões de m³/dia de biometano e investimentos de mais de R$ 10 bilhões em novos projetos.
O presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann, apresentou nesta quarta-feira, dia 3, o potencial e as oportunidades do biogás no Brasil, no stand do Ministério do Meio Ambiente que acontece na COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Glasgow, na Escócia. A fala de Alessandro acontece no dia seguinte ao país aderir ao Compromisso Global do Metano, que prevê o corte de 30% nas emissões até o fim da década.
“Com certeza, esta redução é grande parte da solução para ficarmos abaixo dos 2°C de aumento na temperatura global. Para isso, precisamos evitar as perdas involuntárias na exploração de gases fósseis, e atuar na agroindústria e no saneamento, capturando este metano para produção de riqueza. Queremos transformar estes setores em fábricas de produção de gás, para produzir energia elétrica, energia térmica, combustível, Biometano (gás natural equivalente intercambiável) e biofertilizante”, afirmou.
Segundo Alessandro, a partir do biogás é possível desenvolver toda a cadeia de biorrefinaria, transformando o biometano em hidrogênio, amônia e metanol. “É uma oportunidade única para o Brasil, principalmente, com esta escala. Hoje, o país desperdiça 100 milhões de m³ de metano renovável por dia, que equivalem a 35% da energia elétrica consumida no Brasil e 70% do diesel. Falamos que é o ‘pré-sal caipira’, porque de fato cada usina de cana-de-açúcar tem a escala de um poço de petróleo do pré-sal”, comentou.
Hoje, o Brasil conta com cerca de 600 plantas em operação e apresenta crescimento de 30% ao ano, porém ainda está muito longe de aproveitar todo seu potencial. Apenas 2% são utilizados, representando menos de 0,01% da matriz energética do Brasil. “Temos este desafio, o Ministério da Agricultura junto com o Plano ABC ampliou o limite de financiamento para plantas de biogás, pensando em trazer tecnologia, trazer eficiência, de fato. Não podemos olhar para uma planta como apenas de tratamento de dejetos, é uma usina que vai fazer hidrogênio. A gente tem que agregar tecnologia e fazer isso de maneira eficiente”, afirmou Alessandro.
O presidente da ABiogás também ressaltou o ambiente regulatório favorável para a expansão do biogás, com a nova lei do gás que reconheceu o Biometano como equivalente ao gás natural fóssil, o RenovaBio (programa de créditos de carbono para biocombustíveis) e a modernização do setor elétrico, que contempla usinas de biogás da mesma forma que as térmicas a gás, com a vantagem de se tratar de um gás de origem renovável, além da universalização do saneamento que poderá contar com o biogás como receita acessória.
“Hoje temos R$ 700 milhões investidos, mas queremos chegar a R$ 10 bilhões por ano até 2030. Nossa meta é chegar à produção de 30 milhões de m³/dia até 2030, que é 30% do potencial de hoje e que também está alinhado à redução de 30% das emissões involuntárias que o Brasil assinou”, concluiu Alessandro.
Redução nas emissões de metano
Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o Brasil emitiu, no ano de 2020, mais de 20 milhões de toneladas de metano, um gás que tem um poder de agravamento do efeito estufa 20 vezes pior do que o do CO2. De acordo com relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o metano foi responsável em 30% pelo aumento da temperatura.
A partir da projeção da ABiogás de produzir 30 milhões de m³/dia de Biometano até 2030, o país estaria captando e dando uma utilização nobre para 7,2 milhões de toneladas de metano por ano, o que significa que o país poderá contribuir com a redução de 36% das emissões em relação ao ano passado, superando a meta estabelecida pela ONU.
Segundo a gerente executiva da ABiogás, Tamar Roitman, é possível ultrapassar este índice se todo o potencial do biogás de 120 milhões de m³/dia for aproveitado. “Todo o resíduo, que em economia linear é encarado como rejeito do processo produtivo, em uma visão de economia circular, é encarado como um insumo. Portanto, é possível aproveitar 100% dos resíduos dando uma destinação correta para geração de energia”, explicou Tamar.
A apresentação da ABiogás na COP26 pode ser vista na íntegra aqui: https://www.youtube.com/watch?v=nIeCFfNb3Dw&t=16s