Daniel Rossi, da ZEG: de São Paulo à Amazônia, o futuro é o biogás
Os últimos meses vêm sendo de muito trabalho para a ZEG Ambiental, empresa do grupo Capitale Energia. A companhia finaliza os detalhes para dar a partida em dois projetos – um, de geração de energia elétrica por biogás produzido em uma usina de óleo de palma da Marborges Agroindústria, em Moju, no Pará, e outro, de conversão de biogás em biometano no Aterro Sapopemba, na cidade de São Paulo. Recentemente, de olho no crescente mercado de caminhões movidos a GNV, a ZEG anunciou uma parceria com a Golar Power para liquefação de biometano – que a empresa chama de “GasBio” – e comercialização do produto em larga escala.
Nesta entrevista à ABiogás News, o CEO da ZEG Ambiental, Daniel Rossi, conta mais detalhes sobre os projetos que estão prestes a entrar em operação. O executivo aponta as expectativas da empresa com o biogás e o biometano, em particular na região amazônica, a partir do projeto da Marborges. E indica que, em breve, a companhia irá anunciar um novo projeto de produção do bioenergético a partir de resíduos do setor sucroalcooleiro.
Qual é a capacidade de cada um dos projetos que entrarão em operação?
O projeto de produção de biometano no Aterro Sapopemba, em São Paulo, tem capacidade total de 90 mil m3/dia de biometano. Estamos em sua primeira fase, iniciando uma produção de 30 mil m3/dia de biometano, além da produção de energia para consumo na unidade.
Já o projeto no Pará é para geração de aproximadamente 1 MW de energia elétrica, utilizando a vinhaça de palma para produção de biogás.
Quais são as tecnologias utilizadas? E quais são os principais fornecedores de equipamentos?
Em São Paulo fomos responsáveis por realizar uma integração entre diferentes fornecedores e tecnologias. O equipamento de purificação de biogás é um lavador de gases fornecido pela Greenlane, com quem temos um grande relacionamento.
No Pará, as tecnologias que aplicamos em geração, secagem e dessulfurização do biogás foram todas desenvolvidas dentro da própria ZEG. Para a produção de energia elétrica utilizamos motores Scania, com quem também temos um estreito relacionamento.
Uma das belezas dos projetos é a própria capacidade da ZEG em identificar qual a melhor tecnologia a ser aplicada em cada um deles, pois, dependendo da origem do biogás, sua composição é alterada, e fazer a integração entre diferentes tecnologias.
Fale um pouco sobre o histórico dos projetos, desde sua idealização até este momento de operação.
Em São Paulo, a comercialização do biometano foi estruturada de forma a possuirmos diferentes perfis de clientes: consumidores industriais de grande volume, onde o biometano é um começo de sustentabilidade; consumidores industriais de menor volume, onde o biometano substituirá completamente o combustível fóssil utilizado no abastecimento de frotas; e a própria liquefação com a Golar Power, como já anunciado.
No Aterro Sapopemba, por ser o primeiro projeto de biometano em São Paulo, o licenciamento ambiental é sempre um ponto a ser superado. Esse processo começou em 2017, e agora, com todos os equipamentos instalados, estamos aguardando a licença de operação (LO) ser emitida a qualquer momento. Após a emissão da LO, a próxima fase será concluirmos as autorizações junto à ANP. Então, já são três anos de desenvolvimento, entre licenciamento ambiental e conclusão das obras.
No Pará, como a origem do biogás é muito diferente da de São Paulo, o intervalo temporal é bem inferior. Hoje temos capacidade de construir um biodigestor e instalar uma central térmica em 180 dias, e podemos considerar mais 180 dias para licenciamento ambiental. Mas, por ser o primeiro projeto do tipo na região, o período de licenciamento ambiental de nosso projeto no Pará demorou um pouco mais que isso.
O projeto do Pará traz o conceito “Bioeconomia na Amazônia”, que tanto se fala hoje. Desenvolvemos esse projeto em conjunto com a Marborges, indústria de palma que é nossa parceira e também trilha seus caminhos no uso consciente dos recursos. Lá, utilizamos o resíduo da indústria de palma, produzimos o biogás, geramos energia elétrica para a própria indústria e irrigamos uma plantação de açaí na região com o resíduo do biodigestor. É um projeto que tem muito além de energia renovável. Estamos falando de produção de energia descentralizada que caminha ao lado das atividades ali desenvolvidas, irrigação, cultivo orgânico e agricultura familiar.
A nossa expertise em comercialização de energia elétrica nos faz enxergar a necessidade de cada cliente, de acordo com o perfil de cada projeto. O nosso cliente tem conosco um hub que vai além de energia (seja elétrica ou térmica), onde podemos endereçar diversos interesses de sustentabilidade, bioeconomia e economia circular.
Como está atualmente a carteira de energias renováveis da ZEG Ambiental e qual o peso desses dois projetos nela?
Do ponto de vista financeiro – investimento, faturamento etc. – e de volume de energia renovável gerada, estes novos projetos representam menos de 5% do nosso pipeline atual, amparado por contratos e memorandos vinculantes já assinados, apenas nos negócios de biogás e biometano.
No entanto, ficarão marcados na história da ZEG porque representam um marco que coloca a empresa em um patamar diferenciado. Eles são a materialização da nossa visão de um modelo de negócios que congrega rentabilidade e grande impacto positivo para a sociedade como um todo.
Quais são as perspectivas da companhia na área de biogás/biometano, considerando, inclusive, o recente acordo fechado com a Golar Power para comercialização de biometano?
Estamos com vários projetos no pipeline para os próximos anos. Nossa equipe mostrou ser plenamente capaz de produzir biometano em aterros sanitários, produzir biogás com resíduos e produzir energia de diversas origens. Portanto, temos uma mira para expandir o conceito do nosso primeiro projeto do Pará para toda a Amazônia, incluindo a produção de combustíveis sustentáveis nestes lugares.
Em breve, também anunciaremos nossos projetos na geração de biogás com resíduos da indústria de cana-de-açúcar.
Na ZEG, optamos por nos estruturar, confirmar as teses, para então conquistarmos o nosso espaço no mercado. Já temos vários dos nossos desenvolvimentos validados. Então, os próximos anos serão realmente de grande expansão.
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