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Covid-19 vai consolidar a diversidade de fontes energéticas
A pandemia da covid-19 surpreendeu o mundo por sua intensidade e velocidade. No setor energético, o impacto mais visível são as sucessivas quedas do preço internacional do petróleo, provocadas pela redução do consumo. E com preços tão baixos, um grande temor surgiu: qual será o futuro das fontes renováveis de energia com o óleo tão barato?
Nesta entrevista a ABiogás News, Adriano Pires sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) – que completa 20 anos em 2020 – analisa possíveis desdobramentos da covid-19 na área de energia. Mesmo fazendo ressalvas sobre a impossibilidade de se prever quanto tempo o mundo irá levar para sair da crise atual, o executivo aposta que um futuro mais limpo chegará antes do que se previa.
Nesta entrevista a ABiogás News, Adriano Pires sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) – que completa 20 anos em 2020 – analisa possíveis desdobramentos da covid-19 na área de energia. Mesmo fazendo ressalvas sobre a impossibilidade de se prever quanto tempo o mundo irá levar para sair da crise atual, o executivo aposta que um futuro mais limpo chegará antes do que se previa.
“A crise atual não é econômica em sua origem, ela é provocada por um problema de saúde pública. A economia está sendo dizimada pela saúde pública. Dado esse contexto, quando descobrirmos a vacina, ou remédios eficazes no tratamento da covid-19, acredito que teremos uma volta da transição energética, e de modo mais forte, mais acelerado do que antes.”
Com mais de 30 anos de experiência na área de energia, Pires é doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII (1987), mestre em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ (1983) e economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1980).
Com mais de 30 anos de experiência na área de energia, Pires é doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII (1987), mestre em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ (1983) e economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1980).
O que se pode esperar do setor energético após a pandemia da covid-19?
Estamos em um momento no qual ninguém sabe de nada. Ou estão usando as velhas respostas, que não cabem mais, porque as perguntas são novas, ou então são “profetas”, que em geral se confundem com os oportunistas e propõem soluções falaciosas. Mas é claro que há alguns pontos que podemos começar a delimitar. Por exemplo, não há dúvida de que a crise vai passar. Toda crise passa. Só não saberia dizer quando. Cedo ou tarde vamos reabrir a economia, mas sob dois cenários: ou será um sucesso, ou será ruim e irá aumentar o número de mortos e contaminados, obrigando o retorno do isolamento social. Mas, mesmo considerando que a reabertura dê certo, ela irá ocorrer em um contexto no qual ainda não haverá vacina contra a covid-19. Então, o comportamento do consumidor, da população e das empresas não será normal. Vai ter que se tomar todos os cuidados para que não haja um repique da doença.
No setor energético, estamos vendo o mercado de petróleo ser dizimado. A crise trouxe um cenário inédito, de produção muito grande, preço despencando e o consumo de petróleo e derivados caindo tanto ou mais que o preço. Normalmente, em situações como essa, quando o preço cai o consumo aumenta, o que não aconteceu. O ineditismo é de tal ordem que você chegou a um evento que ninguém poderia imaginar: preço zero no mercado norte-americano de petróleo. Então, as empresas de petróleo vão ter um ano muito difícil, sobretudo as que estão mais alavancadas, porque a geração de caixa deve ser ruim. A BP apresentou o balanço do primeiro trimestre de 2020 e seu resultado foi 20% do apresentado no primeiro trimestre do ano passado. Os resultados de outras companhias de petróleo devem seguir essa tendência. Essas empresas já estão reduzindo drasticamente seus custos, parando de produzir óleo e reduzindo a carga de suas refinarias, que estão com estoques muito grandes pela queda do consumo.
Estamos em um momento no qual ninguém sabe de nada. Ou estão usando as velhas respostas, que não cabem mais, porque as perguntas são novas, ou então são “profetas”, que em geral se confundem com os oportunistas e propõem soluções falaciosas. Mas é claro que há alguns pontos que podemos começar a delimitar. Por exemplo, não há dúvida de que a crise vai passar. Toda crise passa. Só não saberia dizer quando. Cedo ou tarde vamos reabrir a economia, mas sob dois cenários: ou será um sucesso, ou será ruim e irá aumentar o número de mortos e contaminados, obrigando o retorno do isolamento social. Mas, mesmo considerando que a reabertura dê certo, ela irá ocorrer em um contexto no qual ainda não haverá vacina contra a covid-19. Então, o comportamento do consumidor, da população e das empresas não será normal. Vai ter que se tomar todos os cuidados para que não haja um repique da doença.
No setor energético, estamos vendo o mercado de petróleo ser dizimado. A crise trouxe um cenário inédito, de produção muito grande, preço despencando e o consumo de petróleo e derivados caindo tanto ou mais que o preço. Normalmente, em situações como essa, quando o preço cai o consumo aumenta, o que não aconteceu. O ineditismo é de tal ordem que você chegou a um evento que ninguém poderia imaginar: preço zero no mercado norte-americano de petróleo. Então, as empresas de petróleo vão ter um ano muito difícil, sobretudo as que estão mais alavancadas, porque a geração de caixa deve ser ruim. A BP apresentou o balanço do primeiro trimestre de 2020 e seu resultado foi 20% do apresentado no primeiro trimestre do ano passado. Os resultados de outras companhias de petróleo devem seguir essa tendência. Essas empresas já estão reduzindo drasticamente seus custos, parando de produzir óleo e reduzindo a carga de suas refinarias, que estão com estoques muito grandes pela queda do consumo.
E qual deverá ser o novo patamar do preço do barril de petróleo?
Não sei responder. Agora, vamos supor que a reabertura da economia seja bem sucedida. Com isso, pode ser que haja um crescimento do consumo de combustíveis no segundo semestre, principalmente de gasolina. Vamos lembrar que será uma época ainda sem vacina, e então, quem puder não vai usar transporte público, mas sim seu próprio veículo, consumindo mais esse combustível. Ainda assim, vamos ter de tomar cuidado com a saúde pública e a natureza. Então, tenho esperança de que continuaremos a avançar na transição energética.
Um dos debates do momento é justamente esse: se a queda do petróleo será um empecilho ou um estímulo à expansão das fontes renováveis de energia.
A crise atual não é econômica em sua origem, ela é provocada por um problema de saúde pública. A economia está sendo dizimada pela saúde pública. Dado esse contexto, quando descobrirmos a vacina, ou remédios eficazes no tratamento da covid-19, acredito que teremos uma volta da transição energética, e de modo mais forte, mais acelerado do que antes.
Não sei responder. Agora, vamos supor que a reabertura da economia seja bem sucedida. Com isso, pode ser que haja um crescimento do consumo de combustíveis no segundo semestre, principalmente de gasolina. Vamos lembrar que será uma época ainda sem vacina, e então, quem puder não vai usar transporte público, mas sim seu próprio veículo, consumindo mais esse combustível. Ainda assim, vamos ter de tomar cuidado com a saúde pública e a natureza. Então, tenho esperança de que continuaremos a avançar na transição energética.
Um dos debates do momento é justamente esse: se a queda do petróleo será um empecilho ou um estímulo à expansão das fontes renováveis de energia.
A crise atual não é econômica em sua origem, ela é provocada por um problema de saúde pública. A economia está sendo dizimada pela saúde pública. Dado esse contexto, quando descobrirmos a vacina, ou remédios eficazes no tratamento da covid-19, acredito que teremos uma volta da transição energética, e de modo mais forte, mais acelerado do que antes.
Por quê?
Porque as pessoas vão entender ainda mais que mudanças climáticas são algo sério. As pessoas vão começar a entender que o mundo não é plano, é redondo. Entender que as mudanças climáticas não vão chegar como chegou o coronavírus, que nos obrigou de um dia para outro a ficar em casa para evitar a contaminação. Meu exemplo para a mudança climática é um copo de água que você vai enchendo com gotas: em algum momento, mesmo sendo enchido lentamente, o copo vai transbordar se você não parar. Então, temos de evitar que a água transborde. Se ela transbordar, pelo que a ciência já comprovou, os efeitos serão piores que os do coronavírus. Também aposto na transição energética porque acredito que a covid-19 vai fazer as pessoas acreditarem mais na ciência. Até a pandemia muitas pessoas, sobretudo jovens, davam pouca ou nenhuma atenção à ciência, estavam mais preocupadas em ganhar dinheiro no mercado financeiro. Agora acredito que vai se prestar mais atenção na ciência, seja na medicina, seja na matemática, na física. Por isso acho que a questão ambiental tende a crescer.
Porque as pessoas vão entender ainda mais que mudanças climáticas são algo sério. As pessoas vão começar a entender que o mundo não é plano, é redondo. Entender que as mudanças climáticas não vão chegar como chegou o coronavírus, que nos obrigou de um dia para outro a ficar em casa para evitar a contaminação. Meu exemplo para a mudança climática é um copo de água que você vai enchendo com gotas: em algum momento, mesmo sendo enchido lentamente, o copo vai transbordar se você não parar. Então, temos de evitar que a água transborde. Se ela transbordar, pelo que a ciência já comprovou, os efeitos serão piores que os do coronavírus. Também aposto na transição energética porque acredito que a covid-19 vai fazer as pessoas acreditarem mais na ciência. Até a pandemia muitas pessoas, sobretudo jovens, davam pouca ou nenhuma atenção à ciência, estavam mais preocupadas em ganhar dinheiro no mercado financeiro. Agora acredito que vai se prestar mais atenção na ciência, seja na medicina, seja na matemática, na física. Por isso acho que a questão ambiental tende a crescer.
Então, mesmo com a queda do petróleo, sua visão é de que a transição continua?
Sim, sou otimista quanto a isso. E acredito que no momento em que encontrarmos a vacina para a covid-19 vamos acelerar a substituição do petróleo por fontes mais limpas. A começar pelo próprio gás natural, que, além de ser a principal fonte da transição energética, ficou barato com a crise atual. Assim, o gás natural vai ter uma competitividade ainda maior em relação ao petróleo. As outras fontes renováveis, como eólica, solar, biocombustíveis, virão atrás. Vamos ter uma matriz energética global diferente das que tivemos nos séculos 19 e 20. No século 19, a grande fonte de energia era o carvão, a partir da Revolução Industrial. No século 20, a grande fonte foi o petróleo, com o advento dos automóveis. Agora não haverá o domínio de uma única fonte, e o coronavírus irá acelerar esse processo. Acredito que haverá uma regionalização de fontes.
Sim, sou otimista quanto a isso. E acredito que no momento em que encontrarmos a vacina para a covid-19 vamos acelerar a substituição do petróleo por fontes mais limpas. A começar pelo próprio gás natural, que, além de ser a principal fonte da transição energética, ficou barato com a crise atual. Assim, o gás natural vai ter uma competitividade ainda maior em relação ao petróleo. As outras fontes renováveis, como eólica, solar, biocombustíveis, virão atrás. Vamos ter uma matriz energética global diferente das que tivemos nos séculos 19 e 20. No século 19, a grande fonte de energia era o carvão, a partir da Revolução Industrial. No século 20, a grande fonte foi o petróleo, com o advento dos automóveis. Agora não haverá o domínio de uma única fonte, e o coronavírus irá acelerar esse processo. Acredito que haverá uma regionalização de fontes.
O que seria ideal.
Sim. Cada país tem uma vantagem comparativa. Por exemplo, falar em carro elétrico no Brasil não é igual a falar em carro elétrico na Europa. E por que não é igual? No Brasil, temos uma vantagem comparativa gigante no agronegócio. Isso é fato. Nosso país é e deverá continuar sendo uma espécie de celeiro mundial de alimentos e proteína. E no agronegócio temos a energia, com o etanol, o biodiesel. O Brasil tem clima, dimensão continental, quantidade de terras produtivas que nos permitem ter essa vantagem comparativa. Se não houvesse etanol no Brasil, as doenças respiratórias no país seriam muito piores, sobretudo nos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Das 30 cidades com maior poluição do ar em todo o mundo, 21 estão na Índia. O Brasil não tem nenhuma cidade nessa lista. Então, no futuro, o etanol brasileiro poderá ser uma commodity de exportação, para ser misturado a outros combustíveis e reduzir a poluição, garantindo melhor qualidade do ar. Por isso acredito que, ao contrário do que possa parecer, o preço baixo do petróleo não irá atrasar a transição energética ou o pico de demanda do petróleo, mas sim acelerar a mudança.
Sim. Cada país tem uma vantagem comparativa. Por exemplo, falar em carro elétrico no Brasil não é igual a falar em carro elétrico na Europa. E por que não é igual? No Brasil, temos uma vantagem comparativa gigante no agronegócio. Isso é fato. Nosso país é e deverá continuar sendo uma espécie de celeiro mundial de alimentos e proteína. E no agronegócio temos a energia, com o etanol, o biodiesel. O Brasil tem clima, dimensão continental, quantidade de terras produtivas que nos permitem ter essa vantagem comparativa. Se não houvesse etanol no Brasil, as doenças respiratórias no país seriam muito piores, sobretudo nos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Das 30 cidades com maior poluição do ar em todo o mundo, 21 estão na Índia. O Brasil não tem nenhuma cidade nessa lista. Então, no futuro, o etanol brasileiro poderá ser uma commodity de exportação, para ser misturado a outros combustíveis e reduzir a poluição, garantindo melhor qualidade do ar. Por isso acredito que, ao contrário do que possa parecer, o preço baixo do petróleo não irá atrasar a transição energética ou o pico de demanda do petróleo, mas sim acelerar a mudança.
E como o Brasil ficaria nesse processo?
Estou preocupado com o que está acontecendo neste momento com o etanol. Não se usa a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, cobrada sobre a gasolina) para garantir competitividade ao etanol, não se financia o estoque do combustível. O país está demorando para tomar uma atitude, e enquanto isso o etanol vai morrendo. O governo diz que vai ajudar alguns setores, mas não diz nada sobre o etanol. Vamos proteger a Petrobrás e seus combustíveis fósseis e deixar os renováveis? Isso é de uma miopia, ou melhor, de uma cegueira absurda. Quando essa crise passar, e vai passar, corremos o risco de ter um setor totalmente quebrado, sucateado.
E o etanol é um sobrevivente. No primeiro governo de Luís Inácio Lula da Silva, ele falava que o Brasil seria uma “Arábia Saudita verde”. Houve incentivos a plantar cana, a instalar usinas e também foi criado o programa de biodiesel. Mas, em 2008, com o pré-sal, o Brasil virou uma Venezuela. E no primeiro governo de Dilma Rousseff, ela resolveu subsidiar o preço da gasolina e quebrou o etanol. O RenovaBio é um programa importante que vinha ajudando na recuperação do setor, mas, com a pandemia, o etanol, como todos os setores da economia, “contraiu” o vírus. Mas alguns setores estão recebendo “respiradores” do governo, o que não acontece com o etanol.
Estou preocupado com o que está acontecendo neste momento com o etanol. Não se usa a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, cobrada sobre a gasolina) para garantir competitividade ao etanol, não se financia o estoque do combustível. O país está demorando para tomar uma atitude, e enquanto isso o etanol vai morrendo. O governo diz que vai ajudar alguns setores, mas não diz nada sobre o etanol. Vamos proteger a Petrobrás e seus combustíveis fósseis e deixar os renováveis? Isso é de uma miopia, ou melhor, de uma cegueira absurda. Quando essa crise passar, e vai passar, corremos o risco de ter um setor totalmente quebrado, sucateado.
E o etanol é um sobrevivente. No primeiro governo de Luís Inácio Lula da Silva, ele falava que o Brasil seria uma “Arábia Saudita verde”. Houve incentivos a plantar cana, a instalar usinas e também foi criado o programa de biodiesel. Mas, em 2008, com o pré-sal, o Brasil virou uma Venezuela. E no primeiro governo de Dilma Rousseff, ela resolveu subsidiar o preço da gasolina e quebrou o etanol. O RenovaBio é um programa importante que vinha ajudando na recuperação do setor, mas, com a pandemia, o etanol, como todos os setores da economia, “contraiu” o vírus. Mas alguns setores estão recebendo “respiradores” do governo, o que não acontece com o etanol.
E o setor sucroenergético é apontado como uma das principais correntes para a produção de biogás e biometano, inclusive pelo PDE (Plano Decenal de Energia) 2029.
Exatamente. Mas o PDE é ridículo em relação ao biogás. Novamente, o que se vê é miopia. O documento não enxerga o potencial de biogás que temos no Brasil. Não é todo país do mundo que tem o potencial que o Brasil tem desse energético. E se trata de um combustível limpo, de uma energia renovável. E aí o PDE projeta um percentual de biogás na matriz energética brasileira que parece que estamos em outro planeta. Sabemos que há várias previsões de aproveitamento do biogás no país, mas mesmo os números mais conservadores são gigantes. E isso é ignorado pelo planejamento energético. Por isso acredito que o PDE 2030, a ser divulgado no próximo ano, vai ter de olhar essas variáveis que estamos tratando agora. Se o Brasil entender o gênero desta crise, o país vai ter de ter um planejamento energético bastante diferente do que vem fazendo. E as fontes renováveis vão precisar de mais atenção.
Estamos passando por um processo que chamo de “destruição criativa”. No day after da pandemia teremos empresas que vão sumir ou ter seu peso diminuído na economia, enquanto outras vão ter sua importância muito aumentada. Você vai destruir velhas empresas e construir novas, destruir velhos empregos e criar novos empregos. E isso já ocorreu várias vezes no mundo. Na atual destruição criativa, os governos têm de incentivar e dar espaço para as novidades, que têm de trazer melhoria de qualidade de vida.
Exatamente. Mas o PDE é ridículo em relação ao biogás. Novamente, o que se vê é miopia. O documento não enxerga o potencial de biogás que temos no Brasil. Não é todo país do mundo que tem o potencial que o Brasil tem desse energético. E se trata de um combustível limpo, de uma energia renovável. E aí o PDE projeta um percentual de biogás na matriz energética brasileira que parece que estamos em outro planeta. Sabemos que há várias previsões de aproveitamento do biogás no país, mas mesmo os números mais conservadores são gigantes. E isso é ignorado pelo planejamento energético. Por isso acredito que o PDE 2030, a ser divulgado no próximo ano, vai ter de olhar essas variáveis que estamos tratando agora. Se o Brasil entender o gênero desta crise, o país vai ter de ter um planejamento energético bastante diferente do que vem fazendo. E as fontes renováveis vão precisar de mais atenção.
Estamos passando por um processo que chamo de “destruição criativa”. No day after da pandemia teremos empresas que vão sumir ou ter seu peso diminuído na economia, enquanto outras vão ter sua importância muito aumentada. Você vai destruir velhas empresas e construir novas, destruir velhos empregos e criar novos empregos. E isso já ocorreu várias vezes no mundo. Na atual destruição criativa, os governos têm de incentivar e dar espaço para as novidades, que têm de trazer melhoria de qualidade de vida.
RESUMO DAS NOTÍCIAS DE ABRIL
Projeto de lei propõe política para biogás e biometano
O deputado federal Mário Heringer (PDT-MG) protocolou na Câmara dos Deputados o projeto de lei 2.193/2020, que cria a Política Federal do Biogás e do Biometano. A proposta pretende incrementar investimentos em infraestrutura para produção, distribuição e comercialização de biogás, biometano e biofertilizante.
O texto proposto prevê 50% de desconto do IPI na compra de máquinas e equipamentos para diversas etapas da cadeia de biogás e biometano, como produção, conversão de biogás em biometano, compressão e injeção na rede de gasodutos. O PL também propõe
desconto de 50% no IPI pra aquisição de ônibus movidos exclusivamente a gás natural e biometano por empresas de transporte público. Para isso, o deputado propõe o uso da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para cobrir as renúncias fiscais previstas no PL.
O projeto prevê também a criação de linhas de crédito subsidiadas pelo BNDES para financiar a produção de biogás e biometano, bem como o financiamento de projetos de pesquisa para aumentar a utilização de biogás e biometano e de biofertilizantes.
O PL de Heringer se soma a outros projetos no Congresso Nacional que se destinam ao aproveitamento energético de resíduos e geração elétrica. Na Câmara, o PL 5.697/2019, de Cleber Verde (Republicanos/MA), isenta de IPI as compras para usinas de geração a partir de resíduos. Esse projeto foi apensado ao PL 2.581/2019, de Felipe Carreras (PSB/PE), que isenta de PIS/Cofins a venda de energia gerada em aterros sanitários. No Senado, o PLS 302/2018, de Hélio José (PROS/DF), propõe a inclusão da geração de energia na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010.
O deputado federal Mário Heringer (PDT-MG) protocolou na Câmara dos Deputados o projeto de lei 2.193/2020, que cria a Política Federal do Biogás e do Biometano. A proposta pretende incrementar investimentos em infraestrutura para produção, distribuição e comercialização de biogás, biometano e biofertilizante.
O texto proposto prevê 50% de desconto do IPI na compra de máquinas e equipamentos para diversas etapas da cadeia de biogás e biometano, como produção, conversão de biogás em biometano, compressão e injeção na rede de gasodutos. O PL também propõe
desconto de 50% no IPI pra aquisição de ônibus movidos exclusivamente a gás natural e biometano por empresas de transporte público. Para isso, o deputado propõe o uso da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para cobrir as renúncias fiscais previstas no PL.
O projeto prevê também a criação de linhas de crédito subsidiadas pelo BNDES para financiar a produção de biogás e biometano, bem como o financiamento de projetos de pesquisa para aumentar a utilização de biogás e biometano e de biofertilizantes.
O PL de Heringer se soma a outros projetos no Congresso Nacional que se destinam ao aproveitamento energético de resíduos e geração elétrica. Na Câmara, o PL 5.697/2019, de Cleber Verde (Republicanos/MA), isenta de IPI as compras para usinas de geração a partir de resíduos. Esse projeto foi apensado ao PL 2.581/2019, de Felipe Carreras (PSB/PE), que isenta de PIS/Cofins a venda de energia gerada em aterros sanitários. No Senado, o PLS 302/2018, de Hélio José (PROS/DF), propõe a inclusão da geração de energia na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010.
ANP aprova dez novas certificações no RenovaBio
A ANP aprovou mais dez processos de certificação de produtores de biocombustíveis no âmbito do RenovaBio. Com isso, o programa somou, no fim de abril, 122 produtores de biocombustíveis certificados e aptos a emitir pré-CBIOs – direito do produtor de registrar o CBIO junto ao escriturador (instituição financeira) para negociação em bolsa de valores. Do total, 110 são produtores de etanol, 11 de biodiesel e um de biometano.
Segundo informações da ANP, em 13 de abril o RenovaBio ultrapassou a marca de 1 milhão de pré-CBIOs, com lastros resultantes do processamento de 21.219 notas fiscais na Plataforma CBIO, objeto de contrato entre a agência e o Serpro.
Há dez firmas inspetoras credenciadas pela ANP para realizarem o processo de Certificação da Produção Eficiente de Biocombustíveis, que avalia as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na produção e distribuição do biocombustível comercializado e define a Nota de Eficiência Energético-Ambiental (NEEA) de cada planta certificada.
Ainda estão sob análise da agência outros 104 processos de certificação.
A ANP aprovou mais dez processos de certificação de produtores de biocombustíveis no âmbito do RenovaBio. Com isso, o programa somou, no fim de abril, 122 produtores de biocombustíveis certificados e aptos a emitir pré-CBIOs – direito do produtor de registrar o CBIO junto ao escriturador (instituição financeira) para negociação em bolsa de valores. Do total, 110 são produtores de etanol, 11 de biodiesel e um de biometano.
Segundo informações da ANP, em 13 de abril o RenovaBio ultrapassou a marca de 1 milhão de pré-CBIOs, com lastros resultantes do processamento de 21.219 notas fiscais na Plataforma CBIO, objeto de contrato entre a agência e o Serpro.
Há dez firmas inspetoras credenciadas pela ANP para realizarem o processo de Certificação da Produção Eficiente de Biocombustíveis, que avalia as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na produção e distribuição do biocombustível comercializado e define a Nota de Eficiência Energético-Ambiental (NEEA) de cada planta certificada.
Ainda estão sob análise da agência outros 104 processos de certificação.
Foton começa a testar no Brasil caminhão semi-leve a gás
A chinesa Foton iniciou os testes no Brasil do TM 2.8, modelo de caminhão a gás semi-leve da empresa. Os testes estão sendo feitos em parceria com a Coopercarga. O modelo tem motor 1.5 de quatro cilindros a gasolina que pode rodar também com GNV. Fabricado na China, o TM 2.8 deverá ser lançado no país no segundo semestre.
A Foton não divulgou os preços do caminhão, mas, segundo o CEO da empresa no Brasil, Luiz Carlos Mendonça de Barros, o preço do TM 2.8 será menor que o do Hyundai HR, cuja tabela parte de R$ 81.990.
O TM 2.8 será oferecido no mercado com kit gás fornecido pela convertedora Convergas. O sistema pesa cerca de 170 kg e inclui dois cilindros com capacidade total de 30m³ de gás. O modelo pode rodar até 280 km apenas com GNV, de acordo com informações da Foton, e é indicado para operações urbanas.
A chinesa Foton iniciou os testes no Brasil do TM 2.8, modelo de caminhão a gás semi-leve da empresa. Os testes estão sendo feitos em parceria com a Coopercarga. O modelo tem motor 1.5 de quatro cilindros a gasolina que pode rodar também com GNV. Fabricado na China, o TM 2.8 deverá ser lançado no país no segundo semestre.
A Foton não divulgou os preços do caminhão, mas, segundo o CEO da empresa no Brasil, Luiz Carlos Mendonça de Barros, o preço do TM 2.8 será menor que o do Hyundai HR, cuja tabela parte de R$ 81.990.
O TM 2.8 será oferecido no mercado com kit gás fornecido pela convertedora Convergas. O sistema pesa cerca de 170 kg e inclui dois cilindros com capacidade total de 30m³ de gás. O modelo pode rodar até 280 km apenas com GNV, de acordo com informações da Foton, e é indicado para operações urbanas.
“ESTÁ POR VIR”
ABiogás promove seu primeiro Webinar Técnico para discutir o papel do biogás na descarbonização das cidades
De 11 a 15 de maio, a ABiogás irá promover seu primeiro Webinar Técnico, com o tema “O papel do biogás na descarbonização das cidades”. O novo formato do Seminário Técnico – realizado anualmente pela associação para disseminar as novidades do setor de biogás por meio de palestras técnicas e discussões com audiência especializada – é uma adaptação às medidas de segurança tomadas no combate à covid-19.
O Webinar Técnico será distribuído em cinco sessões diárias, sempre às 17h, com mediação da equipe da própria ABiogás. Segundo o presidente da associação, Alessandro Gardemann, o evento é um polo desenvolvedor de contatos, parcerias e negócios e também possibilita o crescimento e o fomento dessa fonte no Brasil. “A crise provocada pela pandemia do coronavírus está nos obrigando a buscar formas alternativas de trabalho e de produção. O setor de biogás atua por longo prazo, temos uma agenda para 2030. O biogás será fundamental nos projetos de infraestrutura que o Brasil vai necessitar pós-pandemia. Temos de manter o debate em dia, por isso optamos por transformar o nosso Seminário Técnico no nosso primeiro Webinar Técnico”, explicou Gardemann.
O Webinar é gratuito e as inscrições podem ser feitas no link: https://www.eventbrite.com.br/e/webinar-tecnico-abiogas-tickets-103352736818
Veja a programação:
11/05 – Visão Geral e Cenários – Visão geral do setor de biogás e sua ligação com a descarbonização das cidades. A discussão será pautada por temas como integração da mobilidade, saneamento, políticas públicas, análise do ciclo de vida e uma breve discussão do mercado de energia elétrica com o papel de usinas híbridas.
12/05 – Biometano e Transportes – O uso do biometano como substituto do diesel em transporte público e logística rodoviária.
13/05 – Biometano na Rede – Serão apresentadas as diretrizes para injeção de biometano na rede, com foco em questões técnicas e de regulamentação, além de abordar os benefícios ao consumidor final e corredores azuis.
14/05 – Biogás e saneamento – Debate focado na produção de biogás em aterros sanitários e estações de tratamentos de esgotos e efluentes.
15/05 – Políticas públicas e financiamento – Para encerrar o seminário, serão discutidos os processos de formulação e implantação de políticas públicas, linhas de financiamento e colaboração internacional.
11/05 – Visão Geral e Cenários – Visão geral do setor de biogás e sua ligação com a descarbonização das cidades. A discussão será pautada por temas como integração da mobilidade, saneamento, políticas públicas, análise do ciclo de vida e uma breve discussão do mercado de energia elétrica com o papel de usinas híbridas.
12/05 – Biometano e Transportes – O uso do biometano como substituto do diesel em transporte público e logística rodoviária.
13/05 – Biometano na Rede – Serão apresentadas as diretrizes para injeção de biometano na rede, com foco em questões técnicas e de regulamentação, além de abordar os benefícios ao consumidor final e corredores azuis.
14/05 – Biogás e saneamento – Debate focado na produção de biogás em aterros sanitários e estações de tratamentos de esgotos e efluentes.
15/05 – Políticas públicas e financiamento – Para encerrar o seminário, serão discutidos os processos de formulação e implantação de políticas públicas, linhas de financiamento e colaboração internacional.
NOVIDADES DO SETOR
Raízen e Geo Energética dão partida em planta de biogás
A Raízen e a Geo Energética iniciaram os testes da planta de biogás instalada pelas empresas na unidade Bonfim da Raízen, em Guariba (SP). A planta foi anunciada em agosto de 2018 e é a primeira no mundo em escala comercial a utilizar a tecnologia de conversão da torta de filtro e vinhaça como matérias-primas para fabricação de biogás e geração de energia elétrica. A unidade é capaz de produzir 138 mil MWh por ano.
A Raízen e a Geo Energética iniciaram os testes da planta de biogás instalada pelas empresas na unidade Bonfim da Raízen, em Guariba (SP). A planta foi anunciada em agosto de 2018 e é a primeira no mundo em escala comercial a utilizar a tecnologia de conversão da torta de filtro e vinhaça como matérias-primas para fabricação de biogás e geração de energia elétrica. A unidade é capaz de produzir 138 mil MWh por ano.
Cade aprova compra da ALEN pela J. Malucelli
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra da totalidade das ações da ALEN pelo grupo J. Malucelli. A ALEN é uma joint venture entre o grupo holandês Arcadis e a Logos Energia e administra plantas de produção de biogás e biometano em aterros sanitários e termelétricas a biogás.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra da totalidade das ações da ALEN pelo grupo J. Malucelli. A ALEN é uma joint venture entre o grupo holandês Arcadis e a Logos Energia e administra plantas de produção de biogás e biometano em aterros sanitários e termelétricas a biogás.
Estudante produz biodigestor de baixo custo no Maranhão
Wraní Tupinambá Pinheiro de Souza, estudante da faculdade de química da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), construiu um biodigestor anaeróbio com capacidade de 1.000 litros para produção de biogás. O equipamento custou R$ 1.550 e foi instalado em uma propriedade rural na cidade de Pinheiro, interior do Maranhão.
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Wraní Tupinambá Pinheiro de Souza, estudante da faculdade de química da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), construiu um biodigestor anaeróbio com capacidade de 1.000 litros para produção de biogás. O equipamento custou R$ 1.550 e foi instalado em uma propriedade rural na cidade de Pinheiro, interior do Maranhão.