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[:pb]O que esperar para o biogás e o biometano em 2020

O ano de 2019 deve ser comemorado para o setor de biogás e biometano. O presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann, conta nesta entrevista que os investimentos em projetos que começaram a ser implementados no último ano chegam a R$ 700 milhões. Nada mal para uma economia que ainda dá sinais tímidos de recuperação após três anos vivendo uma grave crise.

Mas, se há motivos para comemorar, ainda há preocupações. Se as Certidões de Descarbonização (CBIOs) surgem como uma boa possibilidade de monetizar o biometano e estimular empreendimentos, as exigências de garantia de qualidade para o biocombustível e a manutenção da Resolução 482 da Aneel, de micro e minigeração distribuída, são demandas que se estendem para 2020 e vão mobilizar a associação, conta Gardemann.

Qual a sua avaliação sobre o setor de biogás e biometano em 2019?

O RenovaBio, com a efetivação das Certidões de Descarbonização (CBIOs), é com certeza um divisor de águas no setor. Ao tratar de eficiência energética com baixa pegada de carbono, parece que o programa foi escrito para o biogás. É um combustível avançado, que trabalha praticamente apenas com resíduos, mitigando passivos ambientais e transformando-os em energia. Reconhecer isso por meio de um mecanismo de mercado, sem subsídios, é a melhor solução.

O que mais pode ser destacado?

Tivemos diversos projetos de biogás e biometano sendo implementados, que já entraram em operação em 2019 ou vão começar a operar agora em 2020, somando cerca de R$ 700 milhões em investimentos. Ou seja, somos um segmento que ainda está começando a se expandir e já apresenta esse volume de investimentos. Outro destaque é que a oferta de equipamentos movidos a gás, como caminhões e tratores, começou a se materializar. Produzir caminhões a gás no Brasil é um marco muito importante. Por fim, a geração distribuída chamou a atenção de empreendedores para o potencial do biogás no país.

Falando em GD, a revisão da Resolução 482/2012 da Aneel pode ser apontada como o principal foco para o setor em 2020?

O biogás é muito maior que a Resolução 482. Ela é um dos modelos de negócio que viabiliza o biogás, mas não o único. Temos outras possibilidades, como o biometano e a geração de ponta. Temos de estar atentos à mobilização do setor elétrico para outras questões, como geração de ponta e sinal locacional. Também devemos lutar por leilões de energia elétrica dedicados à fonte biogás, porque, afinal, todas as fontes tiveram seus leilões dedicados e o biogás merece o seu. Fora do setor elétrico, temos de nos mobilizar para acelerar a substituição do óleo diesel pelo biometano.

Mas manter as regras atuais da Resolução 482 é importante para a expansão do setor, não?

Sim, claro, temos de lutar pela manutenção da resolução. Mas há dois pontos essenciais que têm de ser destacados nesse debate. O incentivo da 482 permitiu a criação de um ecossistema de inovação. Por isso, qualquer mudança tem de ser gradual, e de preferência casada com a modernização do setor elétrico brasileiro, com sinal locacional e preço horário. Se não, gastou-se um incentivo sem consolidar um setor, e um dos objetivos dos incentivos é consolidar setores. Se vamos modernizar o setor elétrico, precisamos da inovação desse ecossistema que foi construído com incentivos.

Ainda no setor elétrico, outras fontes renováveis, como solar e eólica, vêm entrando forte no sistema. Como o biogás garante espaço entre concorrentes tão fortes?

Somos a única fonte renovável despachável, somos a térmica renovável. Podemos dar garantia de despacho que a solar e a eólica, como fontes intermitentes, não podem dar, e que por isso vão precisar de um backup de térmicas a gás. O biogás é, portanto, a grande solução, uma fonte renovável complementar a essas renováveis intermitentes. Isso garante, inclusive, a ampliação da oferta baseada em fontes renováveis de energia.

Em relação ao biometano, é preciso mudar algo na regulação do combustível?

Precisamos simplificar a regulação sobre garantia de qualidade do produto, que ainda é muito rígida. Claro, todo energético tem de garantir qualidade, isso é correto exigir. Mas há algumas exigências para o biometano, como medição em linha e cromatografia, que são complicadas. Nenhum outro combustível no Brasil mede qualidade de maneira contínua. O próprio etanol, outro biocombustível, tem medição por batelada, assim como a gasolina. Temos de simplificar o processo para o biometano, inclusive para manter a competitividade do biogás em todas as escalas, da pequena é grande. Ao se colocar muitas barreiras regulatórias corre-se o risco de inviabilizar projetos de pequeno porte, o que não é a ideia que envolve esse biocombustível.

Tratando de nichos de mercado, que segmentos devem ser mais explorados em 2020?

Ainda há muito o que evoluir no uso de resíduos da suinocultura e de mandioca. São áreas que estão precisando de solução ambiental, o que estimula o aproveitamento do biogás. Também é preciso estar focado na logística de distribuição de óleo diesel, estimulando sua troca pelo biometano.

E quanto aos resíduos sólidos urbanos? Ainda há muito a ser explorado.

Segundo a ONU, a biodigestão, depois da redução de produção e da reciclagem, é a melhor alternativa para esses resíduos. Temos de incentivar isso. A biodigestão é uma solução definitiva para a recuperação energética e produção de biofertilizantes a partir de resíduos orgânicos.

O Novo Mercado de Gás é uma possibilidade para o biogás, mas como enfrentar o gás natural de origem fóssil, sobretudo com a grande oferta a partir do pré-sal?

O biogás não compete com o gás de origem fóssil. Por isso, o Novo Mercado é para nós a grande oportunidade para o biocombustível. Quanto mais oferta de gás natural fóssil houver, mas infraestrutura para seu transporte e distribuição vai ser criada. Não somos concorrentes. Aliás, o biogás, por suas características de produção local, chega até antes do gás fóssil, cuja produção está concentrada no litoral ou via importação da Bolívia.

Qual a sua avaliação sobre 2019 para a ABiogás e o que esperar da entidade em 2020?

A ABiogás continua se consolidando. Fechamos 2019 com quase 70 associados, um crescimento de 40% em relação ao ano anterior. Isso mostra nossa representatividade e consolida nossa posição nas discussões sobre a expansão do setor energético brasileiro. Os eventos que promovemos estão cada vez mais movimentados, e estamos participando ativamente dos debates regulatórios sobre os setores elétrico e de combustíveis. Em 2020 vamos continuar esse trabalho, lutando pelas demandas do setor de biogás e biometano na pauta energética do país.[:]

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